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  • Foto do escritorMikael Sampaio

Vacina da chikungunya induz resposta imune em 98,8% dos vacinados, mostra estudo fase 3 do Butantã

A vacina contra a chikungunya desenvolvida pelo Instituto Butantan e pela empresa de biotecnologia franco-austríaca Valneva induziu produção de anticorpos neutralizantes em 98,8% dos adolescentes que integram a fase 3 do ensaio clínico conduzida no Brasil. O imunizante também demonstrou um bom perfil de segurança, independente da exposição prévia ao vírus. Estes são os primeiros resultados da vacina em um país onde a doença é endêmica, ou seja, circula frequentemente na população. Segundo o Ministério da Saúde, só neste ano o Brasil registrou 143 mil casos prováveis de chikungunya, e a incidência aumentou mais de 100% entre 2021 e 2022.


Os dados de segurança e imunogenicidade deverão ser submetidos para aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no primeiro semestre de 2024. Nos Estados Unidos, a vacina foi aprovada para adultos na semana passada pela Food and Drug Administration (FDA), tornando-se o primeiro imunizante autorizado para uso no mundo contra chikungunya.


O estudo clínico brasileiro incluiu a participação de 750 jovens de 12 a 17 anos que residem em áreas endêmicas nas cidades de São Paulo (SP), São José do Rio Preto (SP), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG), Laranjeiras (SE), Recife (PE), Manaus (AM), Campo Grande (MS) e Boa Vista (RR). Entre os voluntários, 500 receberam uma dose única da vacina e 250 receberam placebo.


A análise de imunogenicidade foi feita 29 dias após a aplicação do imunizante. Entre os indivíduos sem contato prévio com o vírus da chikungunya, 98,8% apresentaram anticorpos. Já para o grupo que tinha histórico de infecção prévia, a positividade de anticorpos foi de 100%. Os títulos médios geométricos (GMT) de anticorpos passaram de 10,6 no dia seguinte da vacinação para 3.889 no 29º dia. 


Todos os voluntários serão acompanhados até cada um completar um ano de participação no estudo. A avaliação da resposta imune será repetida aos três meses, seis meses e 12 meses após a administração da vacina.


Os resultados do Butantan são semelhantes aos obtidos pela Valneva na fase 3 dos Estados Unidos, publicados em junho na revista The Lancet. Entre os 4 mil voluntários adultos e idosos de 18 a 65 anos, 98,9% produziram anticorpos, com títulos médios que atingiram 3.269,5, independentemente da idade. Além disso, os níveis se mantiveram robustos por pelo menos seis meses de acompanhamento.


A candidata a vacina de vírus atenuado contra chikungunya é resultado de um acordo de transferência de tecnologia firmado pelo Butantan com a Valneva em 2020. Por meio da parceria, será possível produzir e disponibilizar o imunizante no Brasil pelo Sistema Único de Saúde (SUS).


Vacina é segura em adolescentes, adultos e idosos

Durante o período do estudo feito no Brasil, não foi identificado nenhum ponto de preocupação em relação à segurança da vacina. A pesquisa sugere que o produto é seguro e bem tolerado, inclusive em participantes que já foram infectados previamente pelo vírus da chikungunya.


A maioria das reações adversas foi considerada leve a moderada e se resolveu em cerca de três dias. Os efeitos mais comuns foram dor e sensibilidade no local da injeção, dor de cabeça, dor no corpo, febre e fadiga.


No ensaio clínico dos Estados Unidos, o imunizante foi igualmente bem tolerado em adultos e em idosos. As reações mais relatadas foram dor de cabeça, fadiga, dor muscular e dor no local da injeção.

Doença pode deixar sequelas e já causou 82 óbitos em 2023

A chikungunya está presente em mais de 110 países e pode deixar como sequela fortes dores crônicas nas articulações, além de gerar complicações sérias em recém-nascidos infectados durante o parto e idosos com comorbidades. As sequelas podem durar anos e manter o indivíduo afastado de suas funções, gerando também um importante impacto econômico.


O vírus da chikungunya acessa a corrente sanguínea e se multiplica afetando a membrana das articulações. Pode ser assintomático ou causar febre acima de 38,5°C e dores intensas nas articulações de pés e mãos, além de dor de cabeça, dor muscular e manchas vermelhas na pele. Como não há tratamento específico, a infecção é combatida com analgésicos e remédios para febre.


Os primeiros casos de chikungunya no Brasil aconteceram em 2014, mas a doença foi identificada em 1952 na Tanzânia: seu nome vem do idioma suaíli e significa “aqueles que se dobram”, fazendo referência à postura das pessoas infectadas com dor nas articulações. 



Em 2023, de acordo com o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, a região com maior incidência da chikungunya no Brasil foi a Sudeste, com 109,1 casos por 100 mil habitantes, seguida do Nordeste (54 casos/100 mil habitantes) e do Centro-Oeste (41,4 casos/100 mil habitantes). A doença predomina nos estados de Minas Gerais, Tocantins, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul. 


Até outubro, foram registradas 82 mortes, e outras 47 seguem em investigação, representando um aumento de 76% em relação a 2021. Cerca de 70% dos óbitos confirmados foram de pacientes que tinham pelo menos uma comorbidade, sendo as mais prevalentes a hipertensão arterial e a diabetes.

 

Incidência aumenta com as altas temperaturas

A chikungunya é considerada uma arbovirose, assim como dengue, Zika e febre amarela, por ser transmitida por mosquitos – nesse caso, Aedes aegypti e Aedes albopictus. A proximidade do verão e as altas temperaturas históricas que têm sido registradas no Brasil favorecem a disseminação dos vetores, colocando a população em um risco cada vez maior de contrair essas doenças. 


Hoje, o único método de prevenção é o controle dos vetores, por meio do esvaziamento e limpeza semanal de recipientes que contêm água, da eliminação de resíduos e do apoio a programas locais de combate aos mosquitos. Somada a essas estratégias, a candidata a vacina do Butantan e da Valneva permitirá mudar significativamente o cenário epidemiológico da chikungunya.


Fonte: Butantã

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